No episódio de hoje, vou-te contar como comecei a escrever e espero inspirar-te de forma a que também tu possas começar a fazer o mesmo ou, quem sabe, a desenvolver outra actividade criativa que há tempo querias fazer.
Se já me ouviste o leste noutros fóruns, saberás que, na minha história, é impossível dissociar o inicio da escrita da minha avó materna.
Tinha mais ou menos 12 anos quando comecei a escrever pequenos poemas e mais tarde relatos curtos, sentada a uma enorme secretária, que na realidade era um antigo estirador, que antes fora do meu pai. Era uma secretária de que ainda hoje me lembro e tenho saudades, pelo espaço que tinha… Acredito que de alguma forma a criatividade necessita o seu espaço para se expandir e crescer e nessa secretária, assim era, de facto… Havia espaço para tudo: para ter cadernos e livros abertos, assim como canetas, lápis de cor e todo o material de papelaria que eu necessitava para dar asas à minha imaginação!
Eu não tinha a minima ideia se o que escrevia era bom ou mau, segundo que critério… Eu própria, talvez também não tivesse grande critério, a essa idade. Eu apenas escrevia com o coração e as minhas palavras faziam-me sentir…
A minha avó foi a primeira pessoa a quem eu mostrei os meus poemas. (Tentei trazer algum desses poemas ao episódio de hoje, mas depois de muito procurar, não os encontrei em nenhuma das minhas pastas do computador, pelo que não poderei apresentar-te aqui nada desse tempo).
Depois de ouvir o meu poema, comovida, de lágrimas nos olhos e voz embargada, a minha avó disse-me de forma séria e ao mesmo tempo cheia de ternura:
– Escreve, querida, escreve!
Este é o momento que normalmente localizo como o ponto zero da minha escrita criativa.
Num destes dias, fazendo memória, no entanto, lembrei-me de momentos anteriores a este, que creio que também contribuiram ao despertar do meu amor pela escrita. Um desses momentos, passou-se talvez na terceira classe, ou 3º ano, como actualmente se diz. Tinhamos a obrigação de, cada segunda-feira, trazer um pequeno texto escrito por nós. Tinhamos então 7 ou 8 anos.
Naquela altura eu nada sabia de escrita nem cultivava qualquer tipo de sonho relativo à escrita ou qualquer outra expectativa que não fosse cumprir com a actividade que a professora nos tinha mandado como trabalho de casa.
Lembro-me de um fim de semana estar particularmente perdida em relação à redacção que deveria fazer. E nesse domingo pela tarde foi a minha mãe que me deu uma ideia:
– Porque não escreves sobre a nossa casa?
Viviamos num 2º andar no concelho de Sintra que era bastante comum e, quando a minha mãe me sugeriu escrever sobre a minha casa, honestamente, eu não tinha muita ideia sobre o que poderia dizer da minha casa…
Mas a casa tinha uma particularidade que não tinha escapado ao olhar da minha mãe, e era a seguinte: numa das janelas (a da sala) podia-se ver o mar, ao fundo, e por outra (a do quarto do meu irmão), via-se a serra.
Esta particularidade deu origem a um bonito texto e foi tal o sucesso, que na semana seguinte, tive direito a ler de pé, para toda a turma, em frente à professora e a trinta colegas!
Sem dúvida que sem as palavras da minha avó talvez não tivesse continuado a escrever… Afinal, o amor talvez seja a única forma de realmente aprender algo.
No entanto, a minha mãe tem o mérito de me ter ensinado a reparar nos detalhes, nas pequenas coisas que diferenciam e que fazem que algo seja especial. E eu, bem… Eu acredito que escrever é mesmo isso. Escrever é fazer atravessar um raio de luz por entre as sombras.
Sei que tanto a minha avó como a minha mãe vão ouvir este podcast. Por isso aproveito para lhes agradecer: agradecer essa sensibilidade feminina de apreciar e reparar nas coisas que, aos olhos de outros, talvez fossem banais…
A ti, que me ouves, convido-te a escrever – se é nisso que andas a pensar há já algum tempo e não te consegues decidir a começar. Todos nós levamos, pelo menos, um livro dentro de nós. Se sentes essa chamada, escreve, simplesmente! Escreve sem expectativas, escreve para ti, escreve numa folha amachucada ou num guardanapo de papel… Mas escreve! Deves-te esse projecto.
Bons projectos criativos e… até à próxima!